Turismo de observação em Tiradentes
Turismo de Observação em Tiradentes
ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS
Magistrado aposentado e criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com.br)
Parece estranho abordar, em um suplemento de turismo, o potencial natural de um lugar que é conhecido nacional e internacionalmente como uma das “mecas do turismo histórico-cultural”, como é o caso de Tiradentes, no estado de Minas Gerais, mas o tema é também de suma importância turística, como veremos.
Recentemente estivemos por uma semana na charmosa e bonita cidade mineira em questão para, além de apreciar suas inegáveis riquezas histórico-culturais, conhecer, estudar e observar suas belezas naturais e, principalmente, observar a avifauna na região da Serra São José, que fica encostada na cidade, surpreendendo-nos com o potencial natural que encontramos na região e em especial na referida serra, onde ainda é possível encontrar aves representativas de alguns de ecossistemas importantes como Mata Atlântica, Cerrado e Campos de Altitude. Constatamos a ocorrência de cerca de 140 espécies de aves, em algumas horas de observação sistemática, onde prevemos existir cerca de 240 espécies, tomando-se por base nossa experiência e o resultado de um diagnóstico ambiental da APA da serra São José feito pela Fundação Alexander Brandt, de 1997, o qual tivemos acesso por meio de ambientalistas locais. Ainda é possível encontrar aves interessantes como o assustado, ameaçado de extinção e cuidadoso Jacu (Penelope obscura). As alegres Ararinhas (Aratinga leucophtalmus) que sobrevoam a freqüentam as áreas arborizadas da cidade, dando impressão de liberdade, lembrando por isto a luta dos inconfidentes. A espetacularmente colorida Saíra-dourada (Tangara cyanoventris), que mostra o dom da arte da natureza representada em suas cores azul celeste e amarelo vivos, freqüentemente vista em frenéticos bandos “vasculhado” as árvores a cata de comida. Entre os mamíferos, não faltam macacos como os arredios Sauá (Callicebus personatus), que vivem escondidos nas florestas da serra e são detectados pela sua gritaria. Os curiosos e comilões Sagüis-de-tufo-preto (Callithrix penicillata) são vistos inclusive nas regiões arborizadas da cidade, quando não pedindo comida nas janelas das pousadas, alegrando os hóspedes, principalmente os estrangeiros, que ficam maravilhados com sua presença. A flora também é riquíssima, conforme consta do citado estudo.
Há várias trilhas que permitem acesso a estes ambientes naturais, como a simpática trilha da Mãe d´água, que acompanha um antiqüíssimo duto de pedra feito por escravos que leva água para Tiradentes, bem como é possível trafegar em estradas de terra que, serpenteando a Serra de São José, possibilitam a contemplação de paisagens realmente deslumbrantes. Muitas vezes ficamos extasiados com o colorido dourado da Serra de São José, fruto do jogo natural das luzes do sol, dando a impressão de que a serra é formada de ouro.
Portanto, além do potencial da sua fauna alada, a região de Tiradentes possui belas paisagens e uma grande beleza cênica, lembrando que a paisagem é o conjunto daquilo que podemos visualizar naquele momento, podendo trazer sensação desagradável ou agradável.
Já a beleza cênica natural pode ser definida como “o resultado visual e audível harmônico agradável formado pelo conjunto dos fatores naturais de um local ou paisagem” ou ainda “o resultado da representação cênica da Natureza”. É formada assim pelo cenário harmônico criado pelos bens da Natureza, que compreendem os bens visíveis e invisíveis como os sons, já que um pode completar o outro formando uma sensação única harmoniosa daquele local. A beleza cênica é, portanto, um dos atributos da paisagem e um dos fatores determinantes de sua valorização e utilização principalmente pelo ramo turístico.
Também é bom lembrar que o ecoturismo em todas as suas modalidades vem se desenvolvendo muito nos últimos anos, principalmente em países que possuem ainda grandes áreas naturais, como é o caso do Brasil, já que devido a crescente degradação em âmbito mundial do meio ambiente, decorrente de inúmeros fatores, locais outrora naturais e de beleza cênica estão sendo poluídos ou mesmo desaparecendo, prejudicando assim a prática do ecoturismo, que depende muito das características físicas naturais originais. Este processo degradatório valoriza ainda mais os últimos remanescentes com tais características, pois cada vez mais é difícil encontrar locais de grande beleza para ser admirado. A sensação de beleza aliada à raridade da paisagem ou cena natural acabam sendo fatores atrativos, ao mesmo tempo que valorizam o local, pois os turistas acabam procurando-o por isto, gerando fontes de renda direta ou indireta.
Enfim, a cidade de Tiradentes tem um grande potencial para o desenvolvimento do turismo de observação ou de contemplação da natureza, por possuir muitos recursos naturais ainda preservados, com uma rica fauna, em especial suas aves, e paisagens deslumbrantes, que podem oferecer aos turistas uma prazerosa estadia, aliando o conhecimento cultural com o natural. Mas para isso, o poder público local, os estabelecimentos comerciais, notadamente os hoteleiros e agentes turísticos, devem reunir-se e estipular estratégicas de exploração desta nova forma de turismo, dando à região um “plus”, que com certeza só acrescentará renda e preservação ambiental. Pensem nisso.
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Obs.: Artigo já publicado em: O Estado de São Paulo- Supl. Viagem, 28.02.06.