A Transitoriedade da vida e a solidariedade humana
por Antonio Silveira
Certa feita, em uma longínqua data, à noite, em um cemitério abandonado, encontraram Milarepa, o grande yogue tibetano, deitado há alguns dias sobre um cadáver putrefato.
Assustados seus discípulos perguntam porque fazia aquilo, ao que respondeu o grande sábio “ quando estou esquecendo de minha passageira vida, venho ao cemitério para revigorar minha consciência da transitoriedade da vida e das coisas”.
A civilização humana preocupada com a sua sobrevivência e seu “ desenvolvimento” tem, no correr dos séculos, esquecido sua transitória existência. O homem vem fazendo grandes planos como se fosse ele eterno. Adquire bens como se fossem eternos. Desenvolveu sua ganância a ponto de tomar bens de outros a qualquer custo. Chegou ao cúmulo de construir grandes pirâmides para perpetuar sua existência. Andou e anda pelos caminhos equivocados da vida.
O ser humano vem se esquecendo que tudo que existe, inclusive a própria Terra, tem seu círculo de vida; seu começo meio e fim, incluindo aí a vida humana, e por isso está ansioso para obter bens que julga permanentes e sonha ainda com a eternidade.
Com esse entendimento e essa forma de viver, o homem está desviando sua energia e atenção da realidade concreta da vida. Está ele “ sonhando” e “ flutuando” sobre esta realidade e isso prejudica a adoção de ações conscientes e objetivas aqui e agora.
Evidentemente, que não precisamos chegar ao ponto de agir como o Grande Mila, mas podemos observar seu exemplo e ficarmos alerta no sentido de nunca perdemos a consciência da transitoriedade e impermanência da vida e das coisas.
Só assim, viveremos intensamente nossas vidas e deixaremos de lado a ganância por bens materiais passageiros, o que nos levará a um mais alto nível da consciência mundial de solidariedade, pois entenderemos que todos somos iguais.
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OBS: Publicado:
Diadema Jornal – 21.04.96
– JBA – Gr.Jornal.Ronaldo Cortês – 17.05.96 e 24.05.96
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Antonio Silveira: última atualização: 1/5/2012