Cerrado
Definição e aspectos relevantes
O cerrado é formado pelo conjunto de formações vegetais de aspectos e fisionomia variáveis, principalmente de árvores baixas e retorcidas que se misturam a um exuberante estrato herbáceo rasteiro.
Conforme Mário Guimarães Ferri “em sentido genérico, o cerrado é um grupo de formas de vegitação que se apresenta segundo um gradiente de biomassa”.(Os cerrados, um grupo de formas de vegetação semelhantes às savanas. Revista do Serviço Público, FUNCEP, Brasília, 1981.)
O Cerrado ocupa originariamente cerca de um quarto do território brasileiro e é um dos mais ricos ecossistemas da terra.
Área total: 2.100.000 km2
Ocupação humana: 700.000 km2
A sua região nuclear com 150 milhões de km2 situa-se no Planalto Central Brasileiro, estendendo-se pelos estados de Goiás, Tocantins, Distrito Federal, parte de Minas Gerais e Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e parte do Maranhão, Piauí e Rondônia (SMA/SP,1997).
Segundo o geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber, “o domínio dos cerrados, em sua região nuclear, ocupa predominantemente maciços planaltos de estrutura complexa, dotados de superfícies aplainadas de cimeira, e um conjunto significativo de planaltos sedimentares compatimentados, situados em níveis que variam entre 300 e 1.700 metros de altitude. (O domínio dos cerrados: introdução ao conhecimento. Revista do Serviço Público, FUNCEP, Brasília, 1981.)
Porém, por ser desconhecido foi alvo de exploração indiscriminada, dando lugar a monoculturas como soja, cana-de-açucar e pastagem.
Menos de 3% do Cerrado estão protegidos por unidades de conservação, o que torna vulnerável a parte desprotegida.
Formas de Cerrado:
– Cerradão – com vegetação exuberante, composta de árvores altas e matas fechadas.
– Cerrado típico ou stricto senso – com árvores mais espaçadas e de menor porte.
– Campo cerrado – mais aberto que o anterior.
– Campo sujo – possui cerca de 15% de árvores e arbustos, os quais concentram-se geralmente em “ilhas” de vegetação chamados de campos de murundus.
– Campo limpo – com vegetação de gramíneas
Há ainda Matas Ciliares (ou de Galeria) que ocorrem à beira dos rios.
Biodiversidade:
O Cerrado possui uma extraordinária biodiversidade.
Flora:
Apesar de já ter sido descritas um grande número de espécies que ocorrem neste ecossistema, a sua flora ainda não está totalmente conhecida.
Estima-se que a biodiversidade vegetal do cerrado possa chegar a 10 mil espécies.
Seguem algumas espécies encontradas no cerrado.
Aroeira-vermelha (Astronium fraxinifolium);
Benjoeiro (Styrax ferrugeneus);
Candeia (Gochnatia polymorpha);
Capitão (Terminalia argentea);
Capororoca (Rapanea guianensis);
Caroba-de-flor-verde (Cybistax antisyphilitica);
Craibeira (Tabebuia caraiba);
Dedaleiro (Lafoensia pacari);
Embiruçu (Eriotheca pubescens);
Fruta-de-ema (Couepia grandiflora);
Guatambu (Aspidosperma macrocarpon);
Imbiru (Eriotheca gracilipes);
Ipê-branco-do-brejo (Tabebuia serratifolia);
Lixeira (Curatella americana);
Louro-pardo (Cordia trichotoma);
Marmeleiro-do-campo (Austroplenckia populnea);
Pêssego-do-mato (Hexachlamys edulis);
Pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica);
Piqui (Caryocar brasiliense);
Tingui (Mangonia pubescens)
Fauna
A fauna do cerrado também é muito rica.
Mamíferos: Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus);
Tatu-canastra (Priodontes maximus);
Onça-parda (Felis concolor);
Tamanduá-bandeira (Mymecophaga tridactyla);
Veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus) etc.
Aves:
Calcula-se que existam 66 famílias de aves nos cerrados (Claudia C.da Costa et. all. Fauna do cerrado. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,1981).
Algumas espécies: Ema (Rhea americana); Perdiz (Rynchostus rufescens); Nhambu-xintã (Crypturelus parvirostris); Seriema (Cariama cristata); Papagaio-moleiro (Amazona xanthops); Ararimba (Galbula ruficauda) etc.
Proteção jurídica
– Lei 4.771/65, art.16 (Código Florestal).
– Lei 9.605/98 (Crimes Ambientais).
O Cerrado, apesar da sua importância, não foi incluído entre os biomas considerados pelo art. 225, §4º da Constituição Federal, como Patrimônio Nacional, o que é lamentável.
Ameaças ao Cerrado
São inúmeros os fatores que têm causado a destruição do cerrado, mas podemos elencar alguns como:
– topografia geralmente plana facilita a mecanização incentivando a sua ocupação.
– explosão demográfica na sua região;
– exploração predatória de madeira para carvão;
– especulação imobiliária;
– falta de políticas públicas ambientais concretas;
– falta de fiscalização nas unidades de conservação, principalmente;
– falta de conscientização ambiental da população;
– monocultura extensiva;
– uso indiscriminado de agrotóxicos poluindo os rios e riachos.
– garimpo e mineração em geral.
Medidas protetivas recomendadas:
– promover o urgente levantamento da biodiversidade do cerrado, através de convênios ou parcerias com entidades nacionais e internacionais, públicas ou privadas, bem como com universidades;
– desenvolvimento de uma política fiscal eficiente e incentivadora da preservação das áreas ainda naturais do cerrado;
– ampliar as vantagens do ICMs Verde;
– incentivar a utilização racional do cerrado, com a criação de medidas alternativas de manejo que favoreçam a manutenção de áreas naturais;
– aumentar o crédito agrícola do proprietário que preserva as áreas naturais do cerrado, condicionando seu crédito a obediência à legislação ambiental;
– estimular a criação de uma rede de parceria entre os órgãos públicos, proprietários e Ongs para colaboração conjunta na gestão de utilização das áreas de cerrado;
– criação de unidades de conservação municipais, estaduais e até federais nas áreas ainda preservadas;
– propor modificações legais para uma melhor proteção jurídica deste ecossistema;
– fomentar a educação ambiental focando-a na questão cerrado;
– averbação da reserva legal.
Conclusão
O cerrado por sua excepcional biodiversidade constitui-se em um dos mais importantes ecossistemas brasileiros, merecendo atenção de todos para que possa ser preservado de forma a não prejudicar o desenvolvimento. Daí a importância de se conhecer os elementos que o formam para através da educação ambiental conseguir o principal objetivo deixar grandes áreas preservadas para as futuras gerações.
Também devemos criar uma legislação específica sobre o cerrado, protegendo-o de forma mais contundente, isto em todas as esferas: municipal, estadual e federal.
Devemos criar e desenvolver planos de preservação do cerrado, bem como de gestão deste ecossistema envolvendo todos, o poder público e a coletividade.
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