HOMEM-NATUREZA : A NOVA RELAÇÃO ÉTICA

ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS
Juiz de direito em São Paulo (aposentado). Criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com.br)


I – ÉTICA : Definição

A palavra ética vem do grego ETHOS que significa: modo de ser, caráter enquanto forma de vida do homem.

Ética é a forma de proceder ou de se comportar do ser humano no seu meu social, sendo portanto uma relação intersocial do homem. Os parâmetros são as condutas aceitas no meio social, e tem raízes no fato da moral como sistema de regulamentação das relações intersociais humanas, e se assenta em um modo de comportamento.

Portanto, a ética é uma ciência da moral e pode ser definida como: a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade ( Adolfo Sanches Vasquez, Ética, ed. Civilização Brasileira, 14ª edição ).

Podemos, também, dividí-la em : ética normativa que são as recomendações; e ética teórica quando explica a natureza da moral relacionadas às necessidades sociais.

Como teoria a ética estuda e investiga o comportamento moral dos homens, tendo seu valor como teoria naquilo que explica e não no fato que recomenda ou prescreve ( Vasquez , 1993 ).

Atualmente, ante as correntes intuitivas, positivas e analíticas, a ética foi reduzida a análise da linguagem moral, abstraindo-se as questões morais.

Resultado disto é que a moral e a ética perderam significado social, dando-se importância a obtenção finalista do sucesso pessoal e material a qualquer custo, ficando assim reduzida a preceitos delimitadores das relações profissionais ( Códigos Éticos ), restando a ética normatizada apenas e direcionada às profissões. Não há mais uma ética universal.

Dessa forma, passamos por uma crise ética e moral, faltando uma orientação ética geral, e a ética, como conhecemos, ciência da moral, está relegada a um plano inferior social, deixando de ser uma orientadora do comportamento humano como dantes.

II – UMA NOVA FILOSOFIA : Ecocêntrica

Desde o seu aparecimento como espécie inteligente o ser humano vem interferindo sistematicamente no meio ambiente, degrando-o cada vez mais.

A partir do sec.19, principalmente com a Revolução Industrial, surgiu um grande avanço tecnológico, ocorrendo uma grande explosão demográfica com conseqüência nefastas ao ambiente em todo o globo.

Segundo Aristóteles : “Há um limite para o tamanho das nações, assim como há um limite para outras coisas, plantas, animais, instrumentos; pois nenhuma delas retém seu poder natural quando é muito grande, ou muito pequena; ao contrario, ou perde inteiramente sua natureza, ou se deteriora”.

As palavras do grande sábio grego mostra-nos que na sua longínqua época alguém já tinha uma visão cósmica do problema do crescimento das civilizações.

No correr dos séculos a civilização humana foi se expandindo gradativamente por todo o globo terrestre, sendo essa expansão de certa forma regular, e o desenvolvimento tecnológico havido nos últimos cem anos, principalmente, propiciou o surgimento de novas técnicas da medicina, o que resultou em uma queda dos índices de mortalidade, aumentando a população mundial em vista do desequilíbio do binômio nascimento-morte.

Assim, quase ao final do século XX, experimentamos gravíssimos problemas decorrentes da explosão demográfica como: mundialização da pobreza e da fome; descontrole dos meios de produção alimentar , degradação cultural, entre outros;o que vem impossibilitando nações inteiras de se manter , levando-as aos limites da sobrevivência.

Dessa forma, podemos constatar que a própria evolução científica do homem está levando – o a uma crise de existência sem precedentes em sua história, encurralando-o em seu próprio mundo.

Somente com estudos profundos e um planejamento sério de desenvolvimento com atenção específica da problemática populacional, bem como uma nova filosofia de vida, poderá o ser humano conhecer o seu limite de crescimento e, assim, evitar que a civilização moderna ultrapasse a sua capacidade de expansão e entre em colapso.

Apesar do Planeta Terra estar no limiar desse colapso, ainda é tempo de refletirmos sobre as palavras do grande filósofo grego e modificando nosso comportamento tomarmos o rumo que nos permita sobreviver enquanto espécie.

Devemos observar também, que toda a sociedade é responsável pela degradação ambiental, pois: o rico polui com sua atividade industrial, comercial etc; o pobre polui por falta de condições econômicas de viver condignamente e por falta de informações, já que a maioria é semi-analfabeta; e o Estado polui por falta de informações ecológicas de seu administradores, gerando uma política desvinculada dos compromissos com o meio ambiente.

Isto tudo, somado aos novos conhecimentos científícos que concluem que o homem faz parte da natureza como vemos por exemplo na teoria evolucionista de Darwin, pela qual a raça humana tem origem no mesmo ancestral dos grandes macacos e evolui como todos os demais seres viventes, e ainda a Teoria de Gaia de Luveloch para a qual a Terra, Gaia, é um ser vivo que pulsa em vida plena com todos os seus seres, incluindo o homem em igualdade de condições, surgiu a necessidade do ser humano rever a sua ação predatória e conseqüentemente seu comportamento integral.

Isto faz também com que a visão antropocêntrica que rege a conduta humana, tendo o homem como o centro do universo, comece a perder força.

A ética antropocêntrica, principalmente decantada por Kant, que orientou e deu base para as doutrinas posteriores, e que estuda o comportamento social do homem entre si, levando-o ao pedestal de espécie superior pela razão, perde campo para uma nova visão: a visão ecocêntrica.

Esta nova visão ecocêntrica que podemos definir como o homem centrado em sua casa ( ” oikos” = casa em grego) ou seja o homem centrado no tudo ou no planeta como sua morada, permite o surgimento de uma ética que estuda também o comportamento do homem em relação à natureza global; com ela o ser humano passa a enteder melhor a sua atuação e responsabilidade para com os demais seres vivos.

Surge, então, a necessidade desta nova forma de conduta em relação à natureza. Uma nova forma de importância; uma nova concepção filosófica homem-natureza.

A ética passa a ser também, neste caso, um estudo extrasocial e extrapola os limites intersociais do homem, surgindo, assim, uma nova ética diversa da ética tradicional. Surge a ética ambiental.

Com ela nós passamos a ter mais ” humildade zoológica “, e conseqüentemente, passamos a ter um novo entendimento da vida; mas para que isto ocorra é necessário que tenhamos uma plena conscientização da problemática ambiental, caracterizando esta como ter pleno conhecimento de algo e o seu processo dá-se internamente, refletindo-se nas ações.

III – ÉTICA AMBIENTAL :

Essa nova filosofia ecocêntrica e a conscientização fazem com que o ser humano passe a se preocupar com suas ações entendendo que ele faz parte na natureza. Não é o ” dono da Natureza ” . Passa a compreender que a Natureza não está ali para servi-lo, mas para que ele possa sobreviver em harmonia com os demais seres.

Percebendo isso, o ser humano passou a se preocupar com suas ações. Passou a ter ações coerentes em relação à Natureza. Mesmo as suas ações intersociais passam a ser direcionadas à causa da preservação da vida global.

Então, estará ele desenvolvendo cada vez mais uma visão ” holística ” do mundo, ou seja uma visão global.

Essa nova consciência e visão global trazem a ele a necessidade de desenvolver uma nova linha de conduta ética entre ele e a Natureza, formando uma nova interligação ética: homem-natureza.

Ética Ambiental. Definição : é a conduta comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da conscientização ambiental e conseqüente compromisso perssonalíssimo preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global.

Com essa nova ética, diferente da ética tradicional, vai pautar toda a sua vida e assim estará ele agindo sempre com um maior compromisso ético. Compromisso criado por ele próprio. Dentro dele. Sem nenhuma lei que não seja a sua consciência.

Esse compromisso ético é personalíssimo, de modo que não está adstrito a nenhum outro compromisso. É um compromisso de todos os conscientes. É um compromisso da sociedade consciente. É ético não legal. Não se trata de obrigação legal, mas moral e ética de cada um.

O compromisso ético reflete-se em ações éticas, isto é, em ações coerentes com os princípios éticos da pessoa, de modo que as ações impulsionadas por esta nova ética homem-natureza trarão resultados favoráveis à preservação ambiental e conseqüentemente a melhoria da qualidade de vida.

Como pode essa nova ética ser aplicada na vida profissional de pessoas que exercem atividades não ligadas à Natureza?

Essa é uma questão interessante, porque o aparente desvinculação entre uma profissão qualquer e a natureza, é apenas aparente, mas tem ligação direta com sua preservação.

Sabemos que as diversas profissões tem conotações tipicamente de relações sociais , ou seja homem/homem; porém, em se tratando de um

profissional de qualquer área consciente da problemática ambiental e, conseqüentemente, imbuído da nova ética homem-natureza, suas ações serão eticamente coerentes e direcionadas à preservação do ambiente, quando no seu trabalho deparar com ações ou tarefas prejudiciais à vida do ser humano e da Natureza em si.

Estará ele atento para evitar estas ações, lutando até mesmo contra seus interesses pessoais em prol da causa ambiental. Por que?

Porque ele estará agindo segundo a sua nova ética. Não conseguirá aviltar a relação ética que ele mesmo se impôs em relação à Natureza.

Então, não aceitará trabalhar por causas que venham prejudicar o meio ambiente. Não aceitará argumentos nesse sentido. Estará ele preparado para impor a sua nova ação, e em assim agindo todas as classes de profissionais, estarão unidas não permitindo a divulgação de ações ou idéias prejudiciais à Natureza e à vida, barrando a divulgação dessas idéias e ações.

Dessa forma é criada uma barreira ética protegendo a natureza como um todo, e certamente o profissional estará tendo uma grande satisfação interior no exercício de sua profissão.

IV – CONCLUSÃO :

A ética ambiental aqui exposta passa a ser o início de uma nova ordem mundial, é uma nova filosofia de vida do ser humano alicerçada em novos valores extrasociais humanos.

Sua base científica é o estudo da relação homem-natureza, englobando neste binômio todas as raças humanas e todos os seres existentes, abrangendo também os inanimados como o solo, o ar e a água. Tudo que existe tem sua importância e passa a fazer parte desta nova relação ética.

Esta nova ética ajudará a formar uma humanidade consciente de sua posição perante a vida no planeta Terra e dará origem a uma nova postura, um novo comportamento calcado na preservação global da natureza, sendo uma nova esperança de vida.

A colocação em prática dessa nova forma de comportamento ético propiciará uma enorme satisfação subjetiva e íntima em cada individuo, e consenqüentemente da sociedade humana como um todo, de que estará contribuindo com responsabilidade para a preservação do maior bem que existe que é a natureza como um todo. Isto nos dará a esperança de poderemos prolongar a existência de nossa espécie nesse planeta com condições mais dignas, permitindo que possamos usufruir juntamente com os demais seres plenamente deste bem que é a vida, só existente por comprovação científíca na nave mãe-Terra.

Uma nova forma comportamental e uma nova esperança de vida, tornando realidade a possibilidade de um desenvolvimento sustentável, somando-se as novas diretrizes em questões importantes como sugerimos em outro artigo ( A biodiversidade da Terra e o desenvolvimento sustentável, 1994. RT 716/7. ).

Daí a importância de se conscientizar todos os segmentos da sociedade.

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Publicado (com variações) em: Diadema Jornal-SP- 19.10.95; – JBA – Gr.Jorn.Ronaldo Cortês-SP- 08.12.95; – A Tribuna S.Carlos-SP – 12.05.96; – JBA -Gr.Jornal.Ronaldo Cortês-SP- 19.07.96; – Revista Meio Ambiente Industrial- SP- jan./ fev. 1998 (variação com o título “Ética ambiental: novo paradigma industrial”).

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Antonio Silveira: atualização (com inclusão das publicações): 26-10-2014.

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