Canoagem no manguezal, aprendendo com o meio ambiente

É muito difícil para uma criança e até para adultos de uma forma geral, compreenderem a riqueza e diversidade dos vários ecossistemas que os cercam. Atualmente, os meios de comunicação vêm empregando palavras como: biodiversidade, meio ambiente, ecossistemas, preservação e  conservação da natureza; mas, como podemos difundir esses conceitos entre a população sem sensibilizá-la, sem envolvê-la, ou sem aproximá-la desse tão propalado meio ambiente a ser defendido?
Como é que vamos explicar para os leigos, por exemplo, que as áreas alagadiças do mangue, com seu emaranhado de raízes mergulhadas em águas turvas e mal cheirosas são um patrimônio da União (Constituição Federal, art. 225, § 4º  e decreto 750, de 10/02/93) e precisam ser preservadas? Acho que a resposta está se solidificando lentamente através da iniciativa de pessoas e organizações que encontraram caminhos novos e atrativos para elucidar o problema.
Imagine-se remando por um manguezal! Deslizando lentamente pela superfície das águas com uma canoa ou caiaque, você poderá observar o Mangue Vermelho (Rhizophora mangle), com suas raízes adventícias em formato de arco, escorando a planta no solo formado pela deposição de matéria orgânica, partículas de argila e areia transportadas pelos rios e pelas marés. Nesse solo extremamente salino e instável, essas plantas normalmente são a linha de frente entre o ambiente aquático e o terrestre, sofrendo a influência direta das marés, ora ficando com suas raízes submersas na água (maré cheia), ora totalmente expostas ao ar (maré baixa); quando a maré sobe, os poros das raízes se fecham e elas deixam de respirar por algumas horas, restabelecendo a respiração quando a água volta a abaixar.
Restritos às regiões tropicais e subtropicais, os manguezais estão perfeitamente adaptados às adversidades ambientais. Além do mecanismo desenvolvido pelas Rhizophoras, outras plantas adaptadas a este ambiente hostil desenvolveram características particulares para obter o oxigênio tão escasso nesse tipo de solo; as Avicennias (Mangue Preto) e as Laguncularias (Mangue Branco) criaram ao longo de milhares de anos um sistema auxiliar denominado pneumatóforos, os quais afloram verticalmente sobre o lodo para garantir a respiração da planta. Isto se deve à baixa aeração desse tipo de solo,  composto por partículas finíssimas e coesas de características coloidais, as quais impedem a livre passagem do ar até as raízes que sustentam a planta.
Outra curiosidade é o sistema de perpetuação das Rhizophoras; na maioria dos vegetais superiores a germinação das sementes só acontece quando estas já estão instaladas no solo, porém, no Mangue Vermelho a germinação começa com o fruto ainda pendurado no galho da árvore. Em algumas semanas ele se desenvolve, transformado-se num “dardo” apontado para o solo. Por ação da gravidade, ao atingir aproximadamente uns 30 centímetros, ele se desprende da árvore-mãe e penetra facilmente no lodo, dando início a uma nova árvore. Caso o nível da água não permita este processo, o “dardo” ou “caneta” na linguagem popular, irá flutuar ao sabor das marés até encontrar um lugar adequado para se fixar.
Utilizando-se de um processo de ocupação sucessiva, novas plantas vão tomando conta de espaços adjacentes e aglutinando mais partículas de substrato ao seu redor, através do emaranhado das raízes. Dessa forma, novas porções de terra alagadiça vão surgindo, tornando mais secas as áreas internas do manguezal, permitindo o surgimento de outros gêneros que compõe a flora característica desse ambiente como a Avicennia schaueriana (Mangue Preto ou Siriúba) e a Laguncularia racemosa (Mangue Branco ou Amarelo), além de outras espécies invasoras.
Ainda com relação às Rhizophoras, cabe ressaltar que em sua casca é encontrado o ácido tânico ou tanino, que tinge de vermelho a água à sua volta, daí o nome Mangue Vermelho, substância empregada em curtumes e indústrias de tecidos. De uma forma geral, as plantas apresentam troncos finos, não são muito altas, as folhas têm um aspecto coriáceo e são brilhantes. Nas áreas ocupadas pelos Mangues, também é possível encontrar outras plantas adaptadas como o Hibiscus tiliaceus ou Algodoeiro da Praia como é conhecido, o Crinum attenuatum ou Lírio do Mangue, a Spartina brasiliensis um tipo de gramínea, além de outras espécies.
Com relação ao aspecto turvo da água e ao odor característico, é fácil perceber que o manguezal funciona como uma bacia de decantação de sedimentos e de toda a matéria orgânica (animal e vegetal) em decomposição de outros ecossistemas. Os rios transportam todo esse material, que lentamente vai se aglutinando e acaba por precipitar-se ao sofrer uma brusca mudança no ph (fator hidrogeniônico) ao misturar-se com a água salgada trazida pelas marés. O resultado disso é a formação de um substrato escuro e com textura gelatinosa que chamamos de lodo. Esse lodo, por sua vez, irá proporcionar abrigo para vários tipos de crustáceos (caranguejos), moluscos (mariscos, ostras, etc.) e animais unicelulares.
Porém, a característica mais importante desse ecossistema é justamente o caldo nutritivo que alimenta o plancton que, por sua vez, alimenta milhares de espécies da fauna marinha que passam a primeira etapa de suas vidas nessa região. Por isso, os mangues são considerados verdadeiros “berçários” do Atlântico Sul. Já o odor característico dos manguezais provém da ação de bactérias atuando na decomposição da grande quantidade de matéria orgânica presente, liberando um gás à base de enxofre (sulfídrico), que lembra o desagradável cheiro de ovo podre.
Apesar de constituir um ambiente de pouca beleza cênica, o manguezal é um dos mais complexos e importantes ecossistemas associado à Mata Atlântica, merecendo uma atenção especial por parte das autoridades e também um maior nível de conscientização por parte da população. Dessa forma, conciliando a atividade física da canoagem aos conceitos de educação ambiental, temos levado um número expressivo de jovens e até pessoas da terceira idade a descobrirem uma nova maneira de enxergar a natureza, fazendo despertar a curiosidade e o interesse em assimilar novas informações.

Luis Vitor Hilsdorf –
HIKING Outdoor Adventures

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