A POBREZA NA VISÃO DOS POBRES
ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS
Juiz de direito em São Paulo. Criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com)
Conforme estatísticas de organismos mundiais como a ONU sabe-se que dos 6 bilhões de habitantes da Terra, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem em condições de absoluta pobreza, mais de 1 bilhão são analfabetas, mais de 1,2 bilhão não têm acesso a água potável e milhões de crianças morrem anualmente por problemas de desidratação ou outros relacionados a falta de saneamento. Além disso, somos mais de 2 bilhões sem acesso à tecnologia, desde a mais complexa à mais simples. Em suma, a pobreza é o maior problema que vem desafiando a humanidade, ante suas implicações e conseqüências.
Mas quais são suas causas e efeitos? O que devemos fazer para erradicá-la? Normalmente esta questão é debatida em fóruns realizados com a presença de milhares de pessoas altamente qualificadas como chefes de governo, ilustres diplomatas, pesquisadores, representantes de ONGs, entre outros, com resultados nada concretos. Todavia, nestes encontros nunca foram ouvidos realmente os maiores interessados, os pobres. O que pensam eles sobre sua situação? Quais são os temores deste enorme contigente de excluídos? Indagações neste sentido nunca haviam sido feitas, assim como nunca lhes foi concedida oportunidade de manifestação.
Porém, em um estudo inédito recentemente publicado pelo Banco Mundial (Bird) e divulgado pela imprensa, mais de 60 mil pessoas pobres em 60 países foram ouvidas neste sentido e as respostas copiladas no relatório “Vozes dos Pobres”. O estudo relata histórias do dia a dia e o desejo dos entrevistados, mostrando um retrato triste da realidade. Constatou-se que o problema da pobreza não está apenas na dificuldade econômica, mas tem uma amplitude muito maior, pois a fome, o isolamento social, a insegurança e a humilhação são os grandes espectros que assustam os pobres, tomando assim uma dimensão psicológica.
Destas causas e efeitos não podemos deixar de ressaltar a questão alimentar que vem se complicando, pois a produção de alimentos não está conseguindo suprir a demanda, resultando em mais de 800 milhões de famintos sem contar que 12 milhões de crianças menores de cinco anos morrem anualmente, sendo a metade por desnutrição, segundo o relatório anual “A desnutrição no mundo”, da Unicef, 1998. Especialistas dizem que contribuem para diminuir a oferta alimentar: a degradação do meio ambiente com a perda de solos férteis pela erosão, a poluição do ar que acaba contaminando também o solo, os efeitos da destruição da camada de ozônio expondo as plantas a radiação ultravioleta constante e excessiva, o esgotamento dos recursos hídricos, perda da diversidade genética vegetal etc. Para piorar, a distribuição dos produtos alimentícios sofre as conseqüências de interesses políticos e econômicos, que impedem muitas vezes seja feita uma partilha eqüitativa, além da enorme perda em virtude de armazenamento inadequado. Estes fatores aliados a outros vêm trazendo a fome a milhões de pessoas, conseqüentemente fomentando um círculo vicioso com a pobreza.
Portanto, ante sua inédita forma de pesquisa e importância do conteúdo que possibilitou mostrar os reais problemas que envolvem a temática, o estudo “Vozes dos Pobres” deve ser amplamente divulgado para que autoridades e a sociedade organizada de todos os países, ricos ou pobres, engajem-se na luta para erradicar a pobreza, sem sombra de dúvida um dos maiores desafios do século 21. Ademais, se realmente pretendemos minimizar ou acabar com a pobreza e a desnutrição crônica, temos que tomar consciência da amplitude real do problema e partir para ações solidárias e concretas neste sentido. Caso contrário milhões de pessoas continuarão a morrer silenciosamente, esquecidas em sua pobreza.
Obs.: Artigo já publicado em: Diadema Jornal – 26.3.00; JBA.Gr.Jornal.Ronaldo Côrtes-SP – 5.5.00; Notícias da Tarde (Erechim-RS) – 8.5.00 etc