Passarinhar ou observar aves
PASSARINHAR OU ‘OBSERVAR AVES”
Desculpem esta minha intervenção, mas é que tenho ouvido e visto escrito por pessoas que gostam de observar e fotografar aves, incluindo biólogos que praticam esta atividade, a utilização do termo “passarinhar” ou “fazer uma passarinhada”, quando se referem a “observar aves”.
Pelo que me lembro, esse termo “passarinhar” surgiu quando a imprensa divulgou a famosa “Passarinhada do Embú”, referindo-se a um macabro, sem noção e ilegal churrasco de passarinhos realizado pelo prefeito da referida cidade paulista, no início dos anos 1990, o que foi objeto de um processo cujo laudo, se não me engano foi feito pelo falecido e saudoso Dr. Hélio Camargo, então curador do setor de aves do MZSP, grande amigo meu na época.
Assim o termo “passarinhar” passou a ter a conotação de churrasco de aves.
Mas, nestes últimos anos, este termo tem sido usado para designar a “nobre arte” de observar aves. E na sua grande maioria por jovens de 20 a 35 anos.
Penso, talvez, que eles não tenham conhecimento desta história da triste e lamentável origem do termo, e assim têm repetido-o.
Ora, além desta triste origem o termo “passarinhar” não conota em nada o que se está tentando referir, mas sim fazer algo com o passarinho.
Aliás, em se consultando o termo na net, encontramos:
“passarinhar
pas.sa.ri.nhar
(passarinho+ar2) vint 1 Caçar pássaros. 2 Vadiar. 3 Rastejar, saltar agachado, na capoeiragem. 4 Assustar-se (o animal), por objetos que não distingue bem, geralmente por deficiência visual”.
Ou seja, o termo em português significa exatamente o contrário da observação de aves.
A observação de aves surgiu no Brasil na tradução de Birdwatching ou Birding, atividade originária dos ingleses no começo do século XX e depois difundida a vários países do mundo, em especial nos EUA e Japão, por exemplo, onde é muito praticado hoje.
Tenho 63 anos e pratico a observação de aves desde meus 12 anos, ou seja desde 1963, quando lendo a então famosa revista Reader´s Digest (na época sem computadores era a única publicação mensal que dava notícias do mundo, publicada em dezenas de línguas, inclusive aqui no BR em português) onde vi uma matéria sobre birdwatchers ingleses, que obviamente utilizavam binóculos, o que me chamou a atenção, a compra do equipamento e o início desta “inebriante arte de observar o mundo alado”.
Com o advento da internet, a prática ganhou conotação mundial e o BR passou a se destacar como destino para birdwatchers do mundo todo, ante a divulgação de nossa riqueza de aves e locais especiais para observá-las.
Ou seja, birding ou birdwatching (para alguns Bird-watching) são termos conhecidos mundialmente para designer esta atividade, e sua tradução é simplesmente “observar aves”. E um birder ou Birdwatcher simplesmente um “observador de aves”.
Portanto, a utilização dos termos “passarinhar ou passarinhando”, não só denota desconhecimento de sua origem, como não se apresenta correto em bom português, ao contrário significa caçar e assustar aves, além do que dificulta a divulgação da atividade no exterior.
Assim, continuo a utilizar o termo que acho correto “observação de aves” ao me referir a atividade mundialmente conhecida como “birdwatching”.
O que sugiro a todos que estão envolvidos nesta linda e gratificante prática de observação de nossa riqueza alada. E em concordando que divulguem esta mera colaboração.
São Paulo,08/3/2014
Antonio Silveira
Programa Ambiental: A Última Arca de Noé