Manifestações folclóricas

Para cada área de conhecimento erudito há uma correspondente em folclore; poder-se-iam inverter os termos da comparação, pois o conhecimento do senso comum precede ao formal, já que este é sistematizado a partir de um dado empírico sobre o qual o cientista aplicada observação e metodologia adequadas. (Texto extraído do livro “Apoio Folclore” da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, SP, 1989)

Pertencem ao folclore: Todas as expressões de cultura popular, espontâneas, não dirigidas, aprendidas informalmente num processo inconsciente de aceitação e imitação no convívio de parentes e amigos. Temos assim as lendas e estórias, os mitos, as crendices,  os folguedos, as danças regionais, as canções populares, as histórias populares, os costumes populares, religiosidade popular ou cultos populares, a linguagem típica de uma região, medicina popular, o artesanato etc.

Mitologia
Mitos são seres que existem na ordem do sobrenatural, dos quais contam-se estórias.
Alguns personagens e seus mitos:

ANHANGÁ – personagem mitológico da Amazônia protetora da natureza, especialmente dos animais. Aparece em forma de um veado galheiro com olhos de fogo coberto de pelos.

BICHO-PAPÃO – diz-se ser uma espécie de home-bicho que amedronta as criança pois pode aparecer para comê-la se a criança não se alimentar direito ou não obedecer aos pais. História mitológica muito usada pelos pais para dominar as crianças.

BOITATÁ – Cobra-de-fogo que vagando pelos campos, protege-os contra aqueles que os incendeiam.

CAIPORA ou CAAPORA – pequeno índio coberto de pelos, dono da caça e apreciador do fumo e da cachaça ou ainda um caboclo pequeno que aparece montado em um porco do mato.

CHUPA-CABRAS – Mitologia do sudeste brasileiro principalmente. Um animal parecido com um lobo mata animais domésticos principalmente galinhas, cães, cabras e ovelhas sugando seu sangue através de um foro que faz no pescoço da vítima. Muito difundido no interior do Estado de São Paulo, o Chupa-cabras têm sido objeto de atenção inclusive da imprensa ultimamente.

CUCA – Bruxa parecida com uma largata verde e grande, que vive fazendo o mal com suas feitiçarias. Pode ser uma mulher de mau aspecto e que pega criança insones. Canta-se “Dorme nenê, que a Cuca vem pegá. Papai foi prá roça e mamãe pro cafezal”

CURUPIRA – O nome vem do tupi:  curu – abreviação de curumim (menino) e pira, corpo. Com pelos vermelhos e pés virados para despistar os caçadores, é o ente protetor das florestas. Diz-se que é a primeira lenda brasileira, pois foi citada por José de Anchieta, relatando os temores dos índios.

JURUPARI – personagem mitológica dos povos indígenas da Amazônia, que misterioso ensina os costumes, regras sociais e criou os instrumentos sagrados.

LOBISOMEM – mito “importado da europa”. O personagem é um lobo  que amedronta as pessoas nas noites de lua cheia. O lobisomem é um homem que se transformou por castigo, por ter infringir determinados costumes religiosos ou sociais. Dizem que quando ele aparece deve-se fazer o sinal da cruz que ele se afasta.

MÃO GRANDE – Figura mitológica típica do Pantanal Matogrossense, principalmente na Nhecolândia. Trata-se de um homem que vaga pelos cerrados, pastas e capões da região e que agarra o cavaleiro pelo pescoço com suas enormes mãos e o mata.  Mito muito difundido e temido pelos pantaneiros.

MAPINGUARI – Personagem mitológico amazônico que segundo diz a lenda vive nos igapós onde dá uma gargalhada que dá medo nas pessoas. Dizem que ele só morre se for atingido por uma bala feita de cera de vela que tenha sido acesa na noite de Natal.

MULA-SEM-CABEÇA – É uma mula-sem-cabeça que solta fogo pelas narinas e boca nas noites de quinta para sexta feira. Seu relincho é ouvido muito longe e apavora as pessoas. Dizem que é uma mulher, que tomou a forma do animal como castigo por ter sido amante de um padre.

NEGRO D’ÁGUA – Mitologia do Centro-oeste brasileiro, principalmente no Araguaia e nos corixos do Pantanal. O Negro d’água é meio homem meio peixe, com orelhas de macaco e uma crista de peixe e que derruba a canoa se o pescador não lhe der um pedaço de peixe. Dizem que ele é muito forte e que já foi visto por quase todos os pescadores que vivem na região.

PAIQUERÊ – Mitologia sulina do Brasil originada das tradições indígenas. Paiquerê é uma espécie de paraíso, que possuí campos lindos com rios límpidos que correm em vales verdes com árvores frutíferas. Neste local vive o lobo guará que tem a pelagem cor de ouro e que brilha ao sol, bem como araras maracanãs que colorem a paisagem.

SACÍ-PERERÊ – Uma das figuras míticas mais conhecidas do Brasil. O Sací-pererê é um negrinho peralta e perneta que usa uma carapuça vermelha e um cachimbo na boca e que vive atazanando a vida das pessoas. Muito temido nos confins de nossos sertões, principalmente no Sudeste brasileiro crinas dos cavalos , porque assusta os viajantes noturnos e as vezes entra nas casas para fazer bagunça. O sací-pererê povoa o imaginário das pessoas simples de nossos sertões que temem ainda seu enloquecedor assobio e as molecagens que faz dando nós nas crinas dos cavalos.

Superstições e crendices brasileiras:
São o medo de fazer ou deixar de fazer alguma coisa que possa trazer azar, má sorte ou infelicidade.
Seguem alguns exemplos:
– carranca na proa:  afasta os maus espíritos
– o canto do acauã: trás chuvas
– beija-flor entrar em casa: dá sorte
– urubu pousar em cima da casa: dá azar
– cruzar com gato preto atravessando a rua: dá azar
– ouvir o canto do uirapuru: dá sorte e felicidade
– chifre ou cabeça de boi na cerca ou no curral: dá sorte e tira..
– passar em baixo de uma escada:  dá azar e a pessoa não progride na vida
– apontar estrelas:  faz nascer verrugas pelo corpo
– sexta-feira 13:  dia de azar. Evita-se não saindo de casa.
– derramar sal no chão – dá azar,
– mau-olhado: inveja das pessoas causam azar. Evita-se colocando folhas de arruda na sala ou atrás de uma das orelhas.
– angüeras – almas que estalam os móveis, fazem barulho no telhado
– dente de alho no pescoço da criança pare evitar convulsões,

Lendas brasileiras
BOTO – O boto-cor-de-rosa surge na época das festas juninas, transformando-se em um rapaz, que sempre está usando chapéu, já que sua transformação não é inteira, conquista a primeira bela jovem que encontrar, levando-a para o fundo dos rios

CIGARRA – Como a cigarra não quis fazer companhia para a sua mãe que estava doente e foi cantar em um baile, esta rogou-lhe uma praga: Que se arrebente de tanto cantar. É por isso que ela canta até morrer.

ERVA-MATE – Lenda dos índios guaranis do sul do Brasil que narra o surgimento da erva-mate, com a qual se prepara o tradicional chá. Diz a lenda que o índio Jaguaretê foi expulso de sua tribo por ter matado sem culpa um outro índio e que depois de caminhar muitos dias e noites, quase desfalecido de cansaço caiu perto de uma árvore desconhecida. Durante o seu sonho a deusa Caalari (deusa protetora das ervas) lhe ensinou a preparar uma bebida das folhas da árvore e graças a este chá ele se recuperou e ficou forte e saudável. Visitado muito tempo depois pelos índios de sua antiga aldeia, Jaguaretê ofereceu-lhe o chá de erva-mate, o que lhe permitiu voltar a tribo para ensinar a preparar a bebida par toda a aldeia, difundindo assim o chá por toda a região.

GUARANÁ – A lenda do guaraná originou-se dos índios da amazônia. Tupã concedeu um filho a um casal de índios, mas Jurupari atraiu o meno para pegar frutos em uma arvore e o mordeu e ele morreu. Tupã fficou com dó dos pais e lhes enviou uma mensagem em forma de trovão, determinando que eles enterrasse os olhos do menino separados do corpo que deles nasceriam uma planta muito importante e boa para toda a tribo. Assim, nasceu uma planta cuja fruta tem a forma de um olho humano cercado por uma película branca e aí os índios deram-lhe o nome de guaraná que significa “parecido com gente viva”.

MATE – São Tomás ensina aos gaúchos que a erva-mate não se tratava de planta encantada, ensinando-os o milagre de transformar a morte em remédio. Com um fogão a lenha improvisado, tostou as folhas, e as abençoou. Pegou uma cuia e bebeu o primeiro chimarrão. Desde então, gaúcho que bebe chimarrão é homem forte e cheio de amigos;

NEGRINHO DO PASTOREIO – Lenda do Rio Grande do Sul que diz que um menino escravo conhecido por “Negrinho” perdeu uma corrida de cavalo de seu amo, o qual o castigou mandando pastorear bem longe fazendo com que ele tivesse que ficar sozinho muito tempo e pedisse ajuda à Nossa Senhora acendendo uma vela para ela. Como o rebanho que pastoreava fugiu, o seu amo o castigou severamente deixando-o em carne viva e o colocando para morrer em um formigueiro. O Negrinho chamou por Nossa Senhora que o ajudou. No dia seguinte o seu patrão o viu alegre e forte ao lado da Virgem Maria, envoltos em um facho de luz e perto o cavale e o rebanho. O Neguinho montou o cavalo e saiu conduzindo o rebanho. Assim, quando alguém perde alguma coisa pode pedir para o “Neguinho do pastoreio” acendendo uma vela à Nossa Senhora, que encontrará o que procura.

PINDORAMA – Lenda do nascimento do Brasil. Nome que significa país das palmeiras e que surgiu após a formação de uma grande assembléia, composta por tribos que habitavam a região. O nome foi proposto por um pequeno menino;

TUCANO DE OURO – Diz uma lenda na região da Juréia-Itatins no litoral sul de São Paulo que há um tucano de ouro aparece há cada sete anos fazendo um voo do Morro do Pogoça ao maciço da Juréia e retornando sete anos depois e assim sucessivamente e que a pessoa que tenha visão do tucano de ouro será um homem rico e feliz. Trata-se de uma lenda genuinamente caiçara. (VEJA MAIS)

*PIRACUCU – Era um índio, bravo guerreiro, porém com coração perverso. Um dia, Tupã, o deus maior dos índios resolveu puni-lo, unindo-se com outros deuses indígenas. O deus Xandoré, atirando relâmpagos e trovões em Piracucu, acertou-o em seu coração, mas mesmo assim Piracucu não pediu perdão, e foi levado ainda vivo para o Rio Tocantins, desaparecendo nas águas e se transformando em um peixe escuro e gigante;

*UIRAPURU – Uma das mais belas e conhecidas lendas indígenas brasileiras. Dizem que uma índia perdeu uma disputa por um cacique para outra e que de tanto chorar o deus Tupã, por piedade, transformou-a em um passarinho para poder ver seu amado sem que ele percebesse. Porém. A índia convencida de que seu querido era amava sua rival, afastou-se para não atrapalhar a felicidade de seu amado, fugindo para a floresta. Tupã reconhecendo o gesto bonito da índia, contemplou-a com  canto mais bonito da floresta. Assim, quando o Uirapurú canta todas as aves e seres da floresta ficam quietos para ouví-lo de tão belo é sua voz.

Nota: as lendas indígenas brasileiras escapam ao contexto do folclore, mas no aspecto de superstições e crendices que elas causam, estão inseridas no folclore brasileiro.

Folguedos
Exemplo: Moçambique, Reisado, Folias de Reis, Fandango, Vaquejada, Maracatu, Bumba-meu-boi, Festas Juninas, Congadas, Cavalhadas, Alardo, Mulinha de Ouro, Jaraguá etc.

Boi-Bumbá, Bumba-meu-Boi, Boi-de-Mamão, Boizinho – O Bumba-meu-Boi nas suas diversas variantes, em que sempre se faz presente o travesti do boi, é um dos mais divulgados folguedos populares do Brasil e já era citado em 1840 pelo padre Lopes Gama, em Pernambuco. Existe em diversas regiões do país desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Em Parintins-AM o folguedo transformou-se em uma verdadeira festa popular situando-se atualmente no contexto da cultura de massa, comercial, voltada para o turismo, fugindo um pouco do contexto do folclore.

Danças regionais
Frevo, bambelô, baião, cabinda, maracatu, chote nordestino, xaxado, fandango, chula, pau-de-fita, cururu, recortado, marimbondo e capoeira.

Capoeira – A capoeira, considerada como esporte/luta, também é considerada, acima de tudo, uma dança, compondo o folclore brasileiro.
Além de trabalhar com a parte física, a capoeira proporciona uma musicalidade cativante, trazendo sincronia e equilíbrio de todas as funções vitais.
a) Tipos:
– Capoeira de Angola: Tradição trazida da África, sendo rítima e ritualística, transmitida oralmente de mestre para discípulo. A roda é formada com três berimbaus, dois pandeiros e um atabaque, sendo que todos são tocados sentados, com exceção do atabaque.  Também poderá ser usado o agogô e o reco-reco. A roupa que é normalmente usada pelos angolanos são calçados, calça preta e camisa amarela. Já muitos dos mestres se vestem todos de branco;
– Maculelê: praticado com madeira ou facão, em forma de jogo veloz;
– Samba de Roda: capoeirista demonstra seu molejo no corpo sambando;
– Puxada de Rede: representação do arrastão feito pelos pescadores, incentivados pelo canto e batida do atabaque;
– Capoeira Regional: surgida na Bahia em 1899, tendo como mãe a capoeira de Angola.

b) Instrumentos utilizados:
– Berimbau: instrumento que comanda a roda, de uma só corda. É composto por uma biriba, um arame, uma cabaça, um caxixi, uma vaqueta e uma pedra ou dobrão. Na roda, normalmente são utilizados três berimbaus: gunga/berra boi, médio e viola;
– Atabaque: principal instrumento de percussão da roda, marcando o ritmo e facilitando a sincronia entre os três berimbaus;
– Pandeiro: instrumento de percussão geralmente mais agudo que o atabaque;
– Agogô: tem o significado de “sino” em nagô. Trata-se de um instrumento de ferro tocado com o auxílio de uma vaqueta. É o instrumento de percussão mais agudo da roda de capoeira, samba de roda e maculelê.

c) Tipos de toque: Angola; Cavalaria; Luna; Samba de Roda; Santa Maria; São Bento de Bimba; São Bento Grande de Angola e São Bento Pequeno de Angola.

d) Batizado:
Festa na qual o aluno iniciante participa de uma grande roda, confirmando seu apelido e passando a se conhecido no mundo da capoeira. O aluno deverá fazer um jogo com o mestre, contra-mestre, professor ou instrutor, podendo ou não tomar uma queda. O aluno receberá seu primeiro cordão, que será de cor verde.

Canções populares
As cantigas de roda, as canções de ninar, acalantos, cantigas de pescadores, cantigas do catimbó.

Religiosidade popular ou cultos populares
Exemplos: pajelança, candomblé, catimbó, umbanda,

Vestuário

O vestuário típico folclórico no Brasil se compõem de três formas:

 

 

 

 

Fotos do Museu de Folclore-SP
Roupas de couro (Nordeste), vestidos de renda da Bahia e roupa típica gaúcha.

O folclore em poesias


Saci-pererê
Moleque safado
Malandro danado
Que espanta o gado
E deixa caboclo apavorado

Com uma perna só
E sempre a noite só
Dá certeiro nó
Na crina do eqüino só

Vive atazanando o cavaleiro
Com seu ar de gazeteiro
E jeito bem “roleiro”

Com seu barrete vermelho
Anda em um só joelho
O temido fedelho

Antônio Silveira



Curupira
Protetor das árvores e da vida
Lá vai o Curupira
Que dia todo em sua lida
Leva o caçador a grande ira

Com seus pés virados
Desnorteia os invasores
Que ficam horrorizados
Com seus gritos assustadores

Seus pelos avermelhados
Lembram um ser diabólico
A vagar nos alagados

Segue assim o Curupira
Seu mister bem ecológico
De guardião de toda a vida
Antônio Silveira



O rei do cangaço
Lá vai o rei Lampião
Destemido adentrando ao sertão
Balas no cinturão
E papo amarelo na mão

 

 

Como um homem de aço
Comanda todo o cangaço
Trazendo aos ricos o medaço
De tomar de seu rifle um balaço

Ao som de Mulher Rendeira
O bando propaga terror
A Paraíba inteira

Macacos fogem de horror
Do maior bandoleiro
Que existiu no Brasil inteiro
Antônio Silveira



Soneto ao lampião
Este vai para Lampião
Homem macho danado
Que como rei do sertão
Matou muito cabra safado

 

 

De seu rifle saiu balaço
Que deu grande cagaço
Em muito safado ricaço
Que se dizia muito macho

Antonio Virgulino, o Lampião
E Maria Bonita, sua companheira
Por lá levantaram muita poeira

Pelos caminhos do sertão
Viveram anos inteiros
Como temidos bandoleiros
Antônio Silveira


Soneto ao Corisco
Olha o Corisco matador
Cangaceiro temido
Por seu ar de bandido
E seu punhal sangrador

Braço direito de Lampião
Espalhava com sua ação
Por todo o Nordeste
O pavor de uma peste

Se tivesse em Angico
O bando do chefe querido
Não teria fim trágico

A história outra teria sido
Pois com o dito bandoleiro
Macaco nenhum ficaria inteiro
Antônio Silveira



Soneto à Dadá
Cangaceira da peste
Lá está a Dadá
O terror do nordeste
Com seu punhal de “matá”

 

 

Mulher de Corisco
Pra matar nem dava um “pisco”
É só valentia
E muita energia

Tendo a morte como rotina
Mais de duzentos sangrou
Que Deus logo levou

Ferida de morte
Não teve a sorte
De morrer heroína
Antônio Silveira


Desenhos do colaborador, desenhista e artefinalista Ivo Almídio.

——————————-

Antonio Silveira: ultima atualização em 08-7-2014.

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