ADEUS! AOS QUE SE VÃO
ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS
Juiz de direito em São Paulo. Criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com.br)
Segundo o biólogo Edward Wilson relata em seu espetacular livro Diversidade da vida (ed.Companhia das Letras, 1994), a terra nunca teve tanta biodiversidade ao mesmo tempo como atualmente. Só para se ter uma idéia conforme informa o citado autor calcula-se que existam entre 5 a 30 milhões de espécies, sendo conhecidas apenas 1,4 milhão. Para citar um exemplo desta riqueza, no Brasil a Floresta Atlântica abriga 73 espécies de mamíferos, 160 de pássaros e 128 de anfíbios e cerca de 20.000 espécies de plantas; que dirá a Floresta Amazônica com seus quase 5 milhões de km2.
Até aí tudo bem, não fosse o perigo que elas vêm correndo com a degradação de seus habitats, os quais estão sendo destruídos pelo homem de uma forma assustadora. Aliás, segundo a FAO ( Organização da Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) cerca de 200 milhões de hectares de florestas foram destruídas entre 1980 e 1995 e continuam a ser destruídas (Bol. nº46, junho/97, ONU em Foco). A Floresta Amazônica, considerada a maior de todas as florestas tropicais, está correndo um seríssimo risco de virar um deserto, ante a extração irregular da madeira e as características de seu solo, além disso a expansão das fronteiras agrícolas está afetando-a muito. A desertificação também vêm aumentando descontroladamente e a água doce está sendo comprometida com a poluição irreversível dos rios e lagos.
Em vista dessa perda e poluição das regiões naturais, muitas espécies de animais estão chegando à beira da extinção. Segundo a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) centenas de animais e plantas em todo o globo estão relacionadas em seus Anexos como espécies em perigo de extinção. No continente sul-americano o mico-leão-dourado, a ariranha, a onça- pintada, a onça-parda, o tapir, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e outros, encontram-se ameaçados de extinção. Na África Central a mastofauna vem sendo dizimada principalmente pelos efeitos das infindáveis guerras, tornando crítica a situação de certas espécies como por exemplo os gorilas da montanha que são impiedosamente caçados por hordas de famintos e de guerrilheiros. Na Oceania os orangotangos são cada vez mais raros, entrando também na lista dos mais ameaçados, da qual o Panda na China é um dos principais. Quanto aos anfíbios anuros, que compreendem os sapos, rãs e pererecas também encontram-se em franco declínio, muitos também pela poluição trazidas pelas chuvas ácidas que os atinge diretamente já que possuem respiração praticamente cutânea.
Com referência específica as aves, só no Brasil são 97 espécies relacionadas como ameaçadas, conforme consta no livro Threatened Birds of the Americas (The ICBP/IUCN. The Red Data Book, 1992). Livros chamados vermelhos com listas de animais ameaçados de extinção não faltam. Na Argentina o livro Los que se van de Juan Carlos Chebez (Editorial Albatroz, Buenos Aires, Argentina.) catalogou centenas de animais em perigo de extinção, mostrando quão é grave a situação também neste país vizinho.
Assim, o aumento da população mundial, a poluição, a necessidade de se expandir as fronteiras agrícolas para dar alimento a toda a crescente população mundial e a destruição das áreas naturais, principalmente das florestas tropicais, vêm sendo as causas principais de ameaça à sobrevivência das espécies. O que fazer então?
Temos muito o que fazer, a começar por atitudes concretas e enérgicas de preservação das áreas naturais ainda existentes. Como? Através de ações individuais e coletivas como prisão em flagrante de infratores da legislação ambiental; exigir das autoridades competentes medidas urgentes de preservação sob pena de se ver processada por prevaricação; criação de reservas florestais; ajuizar ações populares ou civis quando couberem para que se possa cessar ato danoso ao meio ambiente; exigir das empresas melhor qualidade ambiental em seus produtos, exercer a cidadania ambiental com atitudes condizentes com os objetivos preservacionistas etc. Paralelamente devemos desenvolver a educação ambiental, aliás obrigatória atualmente em nosso país em todos os níveis de ensino, conforme a Lei 9.795, de 27.4.99.
Portanto, a degradação ambiental e conseqüentemente a extinção dos animais só poderão ser evitadas através de ações concretas preservacionistas de todos nós, juntamente com o desenvolvimento de uma educação ambiental abrangente e efetiva. Caso contrário, estamos sujeitos a perder em poucas décadas este nosso riquíssimo patrimônio natural representado pelos animais selvagens. Em assim ocorrendo, só nos restará guardar suas imagens em nosso patrimônio mnemônico e dar adeus aos que se vão.
Obs.: Artigo já publicado em: O Estado do Paraná (PR) – 25.7.99; A Tribuna (São Carlos) – 20.8.99; Diadema Jornal – 29.8.99; JBA.Gr.Jornal.Ronaldo Côrtes-SP – 3.9.99 etc.