O MARCIANO E O PATRIARCA DA FLORESTA

por Antonio Silveira

A nave espacial marciana M6 ao passar pela Terra teve problemas técnicos e desceu em nosso planeta. Escolheu um lugar ermo na floresta, por motivos óbvios.

O pouso foi na região de Santa Rita de Passa Quatro, S.Paulo. Era uma noite quente e estrelada, e enquanto os técnicos de bordo consertavam a nave, o comandante Thafel M6 foi fazer um reconhecimento, quando estupefado encontrou um extraordinário jequitibá rosa de 40 metros de altura e cerca de 3.000 anos de idade.

Estava ele à frente do Patriarca da Floresta, talvez uma das mais antigas árvores do Brasil. e conseqüentemente um dos mais antigos organismos vivos da Terra.

Causou grande surpresa àquele experiente ser do espaço, quando a extraordinária árvore dirigi-lhe a palavra e os dois começaram a dialogar.

A pedido de Thafel M6, o Patriarca da Floresta começou a relatar a história da evolução humana. Contou que os homens criaram várias teses filosóficas começando com os gregos Sócrates, Platão e Aristóteles; criaram as religiões; criaram as teorias evolucionistas; criaram a tecnologia e a bomba atômica, criando o poder de auto destruir.

De cima de sua frondosa copa viu os homens escravizarem-se uns aos outros. Presenciou tristemente as guerras; homens foram amarrados e açoitados em seu tronco; outros morreram enforcados dependurados em seus braços. E nada podia fazer. Teve que assistir a tudo passivamente. Por meio de suas folhas, inúmeras vezes chorou em forma de orvalho.

O Patriarca da Floresta suplicou ao alienígena: Peço que interceda na razão humana e mostre aos homens os caminhos da sabedoria, harmonia e fraternidade, para que não sofram mais.
Respondeu o marciano: Infelizmente nada posso fazer, pois não há possibilidade de nos comunicarmos. A única esperança é de que o próprio ser humano se conscientize de sua situação e responsavelmente adote ações concretas para a sua salvação.

Terminado o diálogo, o marciano voltou para sua nave e seguiu viagem.

Então o Patriarca da Floresta, como todas as outras árvores, continuou chorando pela tristeza de ver um outro ser no caminho inconsciente da autodestruição.

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OBS: Publicado:

O Estado de S.Paulo ( Estadinho ) – 09.03.96
– JBA-Gr.Jornal.Ronaldo Côrtes-SP -27.09.96
– Bol.do Gr.Escoteiro Uirapuru-Diadema-SP -set/96

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Antonio Silveira: última atualização: 01/5/2012

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