De Jeca Tatu a Zé Ninguém

por Antonio Silveira

Como todos sabem e podem relembrar Monteiro Lobato imortalizou na literatura nacional a figura do homem do campo, mais exatamente do caipira típico do Estado de São Paulo, na figura do Jeca Tatu, personagem de seus livros infantis que se caracterizava por seus não muitos dotes intelectuais, mas grande paciência, bondade, ingenuidade e ares de felicidade.

Hoje em dia esta imagem do homem do interior praticamente não existe mais.

Por quê?

Porque o desenvolvimento da sociedade e de sua tecnologia  com o avanço das telecomunicações não permitem que a grande maioria das pessoas fique alheia  as novas tendências sociais e mesmo materiais da sociedade como um todo. Praticamente em todas as casas desse Brasil a fora existe uma televisão ” contando  as coisas modernas”, o que traz a possibilidade de todos saberem o que se passa.

Por sua vez, essa informação deixa o homem do campo fascinado pela cidade, pois vê milhares de automóveis e pessoas trabalhando nas indústrias e comércio, o que lhes dá a sensação de que também podem participar do ” burburinho  das cidades ” e receber vantagens,  e isso  faz  com que tenha uma ilusão de vida melhor e de sucesso; sendo este último uma nova vontade provocada pela tecnologia.

Porém, a realidade que encontra é outra e totalmente adversa o que faz com que passe a formar a grande massa de desempregados e conseqüentemente parte daqueles que vivem da mais pura miserabilidade, tornando-se um “Zé Ninguém”.

Essa ” provocação social ” aliada a má administração pública e de planejamento de desenvolvimento que vem ocorrendo nos últimos 40 anos, que tem provocado pouca atenção aos investimentos  na agricultura, vem propiciando um ” êxodo ” de trabalhadores do campo para as cidades.

As cidades tem se tornado um pólo atrativo aos homens do campo que não encontram mais incentivos econômicos para permanecerem nele, e na maioria das vezes passam a ficar abandonados a sua sorte em vista deste mau direcionamento desenvolvimentista.

Com isso as pequenas cidades passaram a grandes cidades e estas a grandes metrópoles com seus milhares de problemas como nas áreas  : da  saúde, de transporte, de educação, de segurança etc.

Esse crescimento descontrolado das cidades tem gerado o aumento da pobreza, pois os administradores não tem condições econômicas e de tempo para acolher condignamente todo este contingente de pessoas.

Portanto, a pobreza que vemos ao redor das grandes cidades tem como uma de suas principais causas justamente a vinda de milhares ou milhões de pessoas desalojadas voluntária ou involuntariamente dos campos, pelos motivos descritos, e dessa forma cada vez mais a vemos formando um cinturão a volta das cidades, agravando  cada vez mais a situação de todos.

Assim, podemos concluir que se não houver medidas concretas e objetivas do governo e da sociedade no sentido de incentivar a fixação do homem que ainda resta no campo, com a adoção de planos regionais e nacionais de desenvolvimento econômico social equilibrando a economia e as condições sociais das áreas agrícolas com as das cidades,  cada vez mais se tornará difícil o cumprimento do art.6º da Constituição Federal que garante os direitos sociais ali elencados, bem como cada vez mais teremos um Jeca Tatu transformado em um Zé Ninguém.

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OBS: Publicado:

– Diadema Jornal – 12.09.96
– JBA -Gr.Jornal.Ronaldo Cortes – 25.11.96
– Bol.Inf.Gr.Escoteiro Uirapurú-Diadema-SP-fev/97

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Antonio Silveira: última atualização: 1/5/2012

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