MATA ATLÂNTICA: A AGONIA DE UMA FLORESTA

ANTÔNIO SILVEIRA RIBEIRO DOS SANTOS
Juiz de direito em São Paulo. Criador do Programa Ambiental: A Última Arca de Noé (www.aultimaarcadenoe.com.br)




O sinistro som de um tiro ecoa no grotão da mata, seguido de um breve silêncio que parece um tributo àquele que se foi. O ritmado entoar do machado de um cretino, nos dá certeza do breve tombamento de mais uma vida. O estridente gemido de uma moto-serra ao longe, arrepia nossa alma por saber que mais uma frondosa árvore se vai. O ranger dos tratores dá-nos calafrios de saber que belíssimos recantos selvagens estão sendo destroçados e vidas ceifar-se-ão aos milhares, em pouco tempo, para dar lugar a ruidosas estradas e fétidas cidades, tudo em prol do “desenvolvimento”.

Da majestosa onça restam apenas a pele na parede e covardes histórias de caçador; do berreiro da araponga, apenas a vaga lembrança; da coreografia dos tangarás dançarinos, a imagem de alegres momentos; da grande figueira, a lembrança da exuberante vegetação mostrando a arte inigualável da mãe natureza.

Da fantástica floresta que deslumbrou os descobridores aventureiros do século XVI, conhecida posteriormente por Mata Atlântica, que cobria quase toda a franja leste e sul do Brasil, restam apenas 6% que cobrem timidamente algumas partes de cadeias montanhosas do sul e sudeste brasileiro, com menores manchas ainda nas regiões de Espírito Santo, Bahia e Alagoas.

A Mata Atlântica que é considerada como um dos biomas de maior biodiversidade do planeta, é também um dos mais ameaçados e, não obstante ser contemplada como patrimônio nacional (art.225, 4º,Constituição Federal),continua em acelerado processo de destruição, sem que consigamos encontrar meios de isso impedir.

Tentativas há, como a criação de parques nacionais, estaduais, áreas de proteção ambiental (APAs), de leis que protegem a fauna e a flora, ou ainda esforços de abnegados ambientalistas, biólogos e pessoas que em gestos heróicos emergem da coletividade. Porém ainda é pouco, ante a rapidez com que é destruída, desrespeitando-se inclusive áreas de proteção legal.

A ganância dos inescrupulosos desafia as leis; a mata é continuadamente destruída, o palmito retirado clandestinamente e ,assim, uma das mais exuberantes e fantásticas florestas do mundo vai se esvaindo.

Portanto, urge que se façam esforços para que as leis protetivas sejam cumpridas, condenando aqueles que destroem esse patrimônio, bem como sejam feitas concretas e sistemáticas campanhas de educação ambiental para a conscientização da população sobre a sua importância, mostrando como pode ser protegida e quão grande é a sua diversidade biológica que, se utilizada de forma sustentável, trará com certeza benefícios não só a sua população, como também a humanidade.

Portanto, se não se intensificar a atenção ao tema, com o fortalecimento da fiscalização, dos mecanismos de proteção, juntamente com uma campanha de conscientização, da Floresta Atlântica restará apenas suas imagens em nosso patrimônio mnemônico e em nossos ouvidos o lúgubre lamuriar do regougar do Urutau, parecendo prever o funeral desta esplendida floresta.

Obs.: Artigo já publicado em: Diadema Jornal-SP – 10.08.95; JBA-Gr.Jorn.Ronaldo Cortês-SP – 03.11.95; A Tribuna de S.Carlos-SP – 14.07.96 etc.

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